Na América do Sul, na Ásia e na África existe um próspero - e clandestino - comércio de órgãos humanos (como exemplo, um rim pode valer cerca de 500 mil dólares no mercado negro, para uma associação criminosa de traficantes).
Foi em 3 de Dezembro de 1967 que Christian Barnard realizou o primeiro transplante cardíaco num ser humano. Mas, desde então, a ética, não soube acompanhar a ciência.
A evolução da ciência permite a preservação e o prolongamento da esperança média de vida, através de mecanismos de transplantação. Mas este avanço científico trouxe consigo outro(s) problema(s): Como encontrar órgãos disponíveis e em condições de serem transplantados para fazerem face às necessidades dos doentes? Como são conseguidos? Através de que procedimentos e expedientes? Como aferir da certificação de proveniência de orgãos e tecidos humanos?
Nos Estados Unidos morrem, anualmente, cerca de 100 mil pessoas à espera da transplantação de um órgão e todos os anos são transplantados cerca de 30 mil órgãos, neste mesmo país. Este enorme gap entre oferta e procura de um órgão garante de vida leva a que, diariamente morram cerca de 17 pessoas à espera de um órgão o que leva, ao mesmo tempo, à criação de um mercado negro de órgãos e tecidos humanos, muitos dos quais provenientes de pessoas traficadas. Crianças, mulheres e homens jovens, essencialmente do terceiro-mundo, são cruelmente extirpadas da sua saúde, muitas vezes da sua própria vida, sendo os seus orgãos vendidos a peso de ouro nos países desenvolvidos, onde o estilo de vida moderno, trouxe consigo um aumento galopante do número de doenças, que exigem transplantação (doenças coronárias, hepáticas, renais).
Na América do Sul, na Ásia e na África existe um próspero - e clandestino - comércio de órgãos humanos (como exemplo, um rim pode valer cerca de 500 mil dólares no mercado negro, para uma associação criminosa de traficantes). Quem possuiu dinheiro compra estes órgãos aos traficantes, saindo das filas oficiais de transplante e resolvendo o seu problema de saúde sem olhar à proveniência do órgão que recebeu ou a forma como foi conseguido, ou sequer as caracteristicas do dador, nomeadamente as doenças de que possa ser portador (são feitas análises de compatibilidade sanguínea, mas na grande maioria das vezes não há um rastreio completo a doenças, dada a urgência de realização da cirurgia, atendendo estado de saúde muitas vezes precário do transplantado, e à própria logística). O tráfico de orgãos é para além de um atentado aos direitos humanos, um problema gravíssimo de saúde pública, que urge ser combatido, com todas as armas possiveis, nomeadamente armas políticas e legais.
A ética científica distorcida mistura-se com um mercantilismo extremo e oculto baseado na compra e venda de partes do corpo, anunciadas como produto de consumo.
O mercado, neste caso, assume o papel de comprador, daí o alto preço dos órgãos, tendo em conta a lógica de oferta e procura aplicável a este fenómeno: se existem pessoas dependentes do orgão para sobreviver, existirá sempre quem venda o produto ao custo de mercado, os traficantes, e aparecerá sempre quem esteja disposto a compactuar com este crime, por exemplo cirurgiões. Não importa, no caso, se há doação - o que é legal e ético - ou se o órgão foi conseguido por meio ilegal. O objetivo, no final, não é salvar uma vida, mas obter lucro com a venda, para todos os envolvidos no processo. É a subversão de toda e qualquer ética médica.
Saúda-se, portanto o papel desempenhado pela comunidade internacional, liderada pela União Europeia e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que se mobiliza crescentemente contra o turismo de transplante de órgãos, principalmente rins e fígados.
Fonte: Expresso 07-01-2011
1.09.2011
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